Minha mãe conta um pouco da minha história

Dias difíceis

Dia 9 de maio de 2008, minha filha Marcela teve um dia bastante comum para uma jovem de 19 anos. Acordou cedo, foi para a clínica de acupuntura onde era recepcionista, trabalhou até o final da tarde e, como fazia todos os dias, foi para a Anhembi Morumbi, onde cursava o terceiro semestre de Psicologia. Na saída da faculdade, ela e o namorado, Rodrigo, que cursava Publicidade na mesma Universidade, foram ao Bar Dinorah, na Vila Madalena, comemorar o aniversário de uma amiga.

Na volta da festa, por volta de quatro horas da manhã, já dia 10 de maio, véspera do dia das mães, o carro em que ela estava colidiu contra um poste e uma grade de uma concessionária de veículos, a um quarteirão da minha casa. Os dois foram retirados das ferragens e encaminhados, pelo resgate, para o Hospital Regional Sul. Lá receberam atendimento de emergência. Após algumas horas, minha filha foi transferida de ambulância UTI para o Hospital Santa Catarina, na Av. Paulista.

O caso dela não podia ser mais grave. Ela, durante o impacto, sofreu desaceleração, e o seu cérebrou chicoteou para frente e para o lado. Em outras palavras, seu cérebro bateu fortemente contra a sua calota craniana. Ela entrou em coma profundo, a tomografia, feita no Regional Sul, já detectou uma lesão axional difusa no tronco cerebral. Fomos avisados pelo neuro que a atendeu, que essa lesão era irreversível e que seu prognóstico era o de viver em estado vegetativo.

Próximo ao horário do almoço, já estávamos dando entrada no Santa Catarina, na UTI Neurológica. Novos exames foram feitos e ela foi submetida a sua primeira cirurgia: foi instalado dentro de seu cérebro um aparelho chamado PIC, que mede a pressão intracraniana. Esse aparelho fica fixado no cérebro e ligado a um aparelho que, permanentemente, monitora a pressão. No quinto dia após o acidente, a pressão aumentou muito. Ela teve um AVC isquêmico que lesionou a parte direita de seu cérebro. Diagnóstico médico: hemiplegia espástica à esquerda.

Suas chances de vida eram menores a cada dia. Para que tivesse chances de sobreviver, foi submetida a uma cirurgia chamada craniotomia. Uma considerável parte de sua calota cerebral foi retirada para que o inchaço de seu cérebro pudesse não mais lesionar outras áreas, ou seja, sem a parte óssea, seu cérebro poderia inchar para fora da cabeça. Esse osso foi mandado para a Universidade de São Paulo, para ser conservado em baixíssimas temperaturas. Depois de dez dias, ela foi submetida a uma traqueostomia, para que pudesse ser desentubada, já que os tubos de respiração poderiam ser focos de infecções. Foi descoberto que o impacto havia rompido o terceiro nervo óptico do olho direito, que é responsável pela abertura e o fechamento da pálpebra, dilatação e contração da pupila e movimentação ocular, ou seja, uma pitose foi instalada. Sua pálpebra não podia mais se abrir. Fechada, guardava uma pupila totalmente dilatada, demonstração clara de uma lesão cerebral. Dias após, foi gastrostomizada, para que pudesse receber alimentação diretamente no estômago. Minha filha passou 55 dias em coma profundo, ligada à dezenas de aparelhos que monitoravam todas as suas funções vitais.

A saída do coma, a volta à vida, é lenta. A cada dia, os neurônios refazem algumas sinapses, ou seja, descobrem alguns novos caminhos para restabelecer suas funções. A volta do coma também nos trazia as consequências que estariam instaladas, ou seja, as sequelas. Não havia movimento de nenhum músculo do lado esquerdo do corpo, rosto, braço e perna estavam paralisados. O olho direito não abria e havia dúvidas de que a visão daquele olho também estivesse preservada.

Depois de 60 dias internada, Marcela foi transferida para o quarto para evitar que mais uma infecção, comum em UTI, fosse desenvolvida. Ela já havia desenvolvido várias pneumonias. Por não conseguir se mover, era necessário que mudássemos a sua posição no leito a cada duas horas para que não desenvolvesse escaras, que são feridas que demoram muito a cicatrizar. Ela nunca teve nenhuma escara, o que é muito difícil de ser conseguido em quadros como o dela. No quarto, os médicos perceberam que o cotovelo esquerdo estava destruído e ela foi submetida a uma cirurgia de reconstrução, onde foram colocados pinos e placas. Ela passou a receber atendimento fonoaudiológico para reaprender a engolir e a falar. Ela falou sua primeira palavra 80 dias após o acidente. Assim que passou a engolir substâncias pastosas e aprendeu a beber água foi descanulada, ou seja, o aparelho de traqueostomia foi retirado, a gastrostomia também foi retirada e ela passou a se alimentar de maneira natural.

Foi então que os médicos recolocaram sua calota cerebral. A parte do osso que havia sido retirada, foi recolocada em seu crânio e presa por grampos de titânio.

Noventa dias após o acidente, minha filha veio para casa, em sistema de Home Care. Sua situação ainda era muito delicada. Não havia controle da cabeça, do tronco, babava, usava fraldas, se alimentava vagarosamente porque engasgava com frequência. Sua comunicação era totalmente prejudicada. Sua fala era difícil e muito confusa. Sua memória recente estava totalmente prejudicada. Não conseguia se lembrar de nada que havia acontecido com ela após 20 minutos do acontecido. Começava então uma longa caminhada chamada reabilitação, que teve dia para começar, mas que sabemos, não ter dia para acabar. Nosso único objetivo em todo esse caminho de dor profunda é conseguir que ela consiga chegar, o mais perto possível do que foi: uma menina saudável, inteligente, responsável, linda e com um futuro promissor a sua frente.

Nossa vida ficou bem diferente da vida que tínhamos meses atrás. Nossa rotina se resume a uma agenda repleta de terapias: fisioterapia motora, fisioterapia neurológica, fonoaudiologia, psicopedagogia, equoterapia, acupuntura, fisiatria, terapia ocupacional e psicologia. Eu digo “nossa” porque a acompanho em todas as atividades. Minha filha precisa da cadeira de rodas para se locomover e de ajuda para viver e, quem sabe, um dia voltar a ser o que era: um indivíduo produtivo, independente e feliz!

São muitos os ganhos motores que temos presenciado. Por receber atendimento fisioterápico e fonoaudiológico em nossa casa, percebemos, a cada dia sua evolução. Sua situação ainda é a de semi dependência. Locomove-se em uma cadeira de rodas com ajuda, já que o lado esquerdo de seu corpo, membro superior e inferior é paralisado, impedindo que ela, mesmo na cadeira de rodas, consiga se locomover de forma independente.

Essa é a parte clínica. A parte emocional é uma história totalmente diferente. Também bem mais difícil de explicar. O que se espera que passe no coração de um ser humano nessa hora? Quase nada... e tudo... tudo ao mesmo tempo. Para que algo acontecesse nesse coração, precisaria de uma simples certeza: de que se tivesse a certeza de que ainda há um coração dentro do peito... é quase uma sensação de dormência. As pessoas perguntavam como eu suportava tanta dor. Eu não sei. Simplesmente não me lembro disso. Fui e sou apenas mãe. O que eu não consigo esquecer é de que cada dia é um dia, cada vitória, uma conquista... Aonde chegaremos? Não sei... muitas vezes me parece que não há limites para as coisas que o amor é capaz de conseguir. 

eu de dreads eu e a ma   MARCELA4 REVISTA ENTENDER A MULHER

A fé

Essa pequena palavrinha de 2 letras consegue receber um significado diferente para cada pessoa.  Para muitos, apenas um substantivo.  Para quem acredita em algo maior é uma motivação, divina ou não, de ordem maior e deve ser respeitada!

Na minha ótica, a fé é uma força que nos move e não permite que desistamos de um ideal ou de um sonho que mora em nossos corações. Há pessoas que a partir dela conseguem levantar da cama ou aguentar horas de dor. No fundo, bem no fundo do coração, têm certeza que irão suportar e que o sofrimento um dia irá ter fim.

Ao longo do dia devemos superar nossos desafios ou dificuldades…Tudo isso vai se  somando e se agregando em uma única palavra: FÉ.249510_156847961047437_100001667035475_340815_3817961_n

Glauben, fé em alemão…  Além de tatuada no braço mora definitivamente em meu coração! Uma força criada por nós mesmos, que nos permite enfrentar qualquer dificuldade…Não sabemos qual será o obstáculo, porém temos uma única certeza: que iremos conseguir! Não importa quanto tempo demore, nem a quantIdade de esforços que iremos precisar, iremos conseguir e, por isso  fazemos nosso melhor!

ser zen…

 

Ser ZEN é uma filosofia de vida! Cada um tem a sua!
O que falta é respeitar!! E Aprender!

 
powered by Blogger