Medo das Realizações - Edgard Badari Jr


“Complexo de Jonas”
Dentre todos os medos, o medo da auto-realização é o mais paralisante e castrador sentimento que aflige o Ser Humano.
No antigo Testamento encontramos a passagem de Jonas, que traz uma profunda mensagem ao narrar a capacidade de realização e a fuga desta pelo medo.
Jonas o Profeta, é convidado por Deus á dirigir-se até Nínive, uma cidade grande, onde os moradores estão mergulhados em imoralidades e falta de valores éticos. Jonas deveria alertar os Ninevitas e com isso fazer com que eles alterassem seu modo de vida. Neste chamamento, está implícito que Jonas é possuidor de uma capacidade para realizar o intento, pois Deus conhecedor de todas as coisas, sabe do potencial ético/ moral de Jonas. Mas com receio, medo de não conseguir esta façanha, Jonas foge para a cidade de Társis. Nesta fuga de si mesmo, Jonas toma um barco em Jope, uma cidade litorânea, que o levaria ao seu destino. No caminho, Deus envia uma tempestade, o barco sofre avarias, os marinheiros conhecedores do ocorrido lançam Jonas ao mar. Um grande peixe o engole, onde por três dias e três noites permanece em seu ventre. Após orar e pedir a Deus uma nova oportunidade, Jonas é expelido próximo á Nínive.
Trago Jonas como modelo, exemplo do homem que tem medo das realizações, que foge as suas vocações, inspirações e qualidades.
Um elemento muito interessante encontrado em alguns pacientes, é o fato do sucesso provocar neles um grau elevado de ansiedade, quando conseguem algo, receiam humilhar as pessoas do seu convívio, sejam os pais ou amigos. Esta fantasia cria, junto com a ansiedade, um sentimento de culpa. Pessoas cujo sucesso destrói. Seja no campo profissional ou afetivo.
Este processo desemboca em uma terrível estagnação, porque o medo de ser diferente, de auto realizar-se, é o medo de ser rejeitado e excluído.
Tomando como exemplo: um Rapaz, cujos pais se separaram quando este estava para completar 19 anos. Conhecedor das características de seu Pai e de sua Mãe estava claro para ele a impossibilidade deste casamento continuar, mas o que não conhecia eram seus medos inconscientes de constituir e construir uma relação duradoura e equilibrada. Ele conseguia ponderar e encontrar os pontos de discórdia entre os pais, com isso elaborava e formava um raciocínio, onde encontrava a melhor forma, para ele. de se conviver. Quando iniciou um namoro, começaram as angústias e dúvidas, vivia relativamente bem com a pessoa de sua escolha, mas estas angústias tomavam conta dos seus pensamentos, se questionava o que estava acontecendo, já que gostava da moça. Às vezes pensava, o que poderia oferecer á ela. O medo era presente, mas ainda inconsciente. Em uma das sessões do tratamento, tomou um susto ao fazer uma associação livre, a frase pronunciada por ele foi: “Meu Deus do Céu, o que meu Pai e minha Mãe irão pensar de mim, se perceberem que sou feliz com a...”. O que estava implícito, era a fantasia de não poder superar seus pais, ser diferente, formando um relacionamento feliz.
Vamos notar que o Rapaz pôde formular e observar maneiras de constituir um bom relacionamento, mas quando começou a realizá-lo quase fracassou.
Neste pequeno exemplo encontramos um conflito recorrente em nossa sociedade. São aquelas pessoas que sonham, idealizam o sucesso, a plenitude, seja em que campo de atuação for, profissional, relacional, etc. Porém, na hora das realizações, se organizam de tal forma que fracassam, quando tinham capacidade para vencê-las. Isto constitui a “neurose do fracasso”, ou seja, na hora da realização, inconscientemente, se arranjam de uma certa forma para falhar.
Trazendo Jonas de volta. A fuga dele foi à recusa na escuta da voz interior, da auto-realização, da auto-superação. As pessoas temem o sucesso pelo medo de ultrapassarem os seus iguais. Realizando-se pensam que se tornarão uma ameaça e consequentemente serão rejeitadas. Podemos colocar também o sentimento de “não merecimento”, quando uma pessoa escuta desde criança que não serve para nada, não é inteligente, internalizará este desmerecimento e isto fará parte de sua programação, resultando quando se alcança o sucesso na falsa idéia de não merecê-lo.
Para podermos nos reconhecer, temos que nos aceitar. Tomar uma afirmação como nossa, acreditar que aquilo é o melhor para nós, e isso não significa ser contra, mas assegurar o que nos pertence, o que é nosso e afiançar nossa personalidade. Isto é, ser livre para realizarmos nossos sonhos e desejos. O medo da diferença é a negação da liberdade. É a negação de sermos quem somos. Uma renúncia do próprio potencial, da independência.
Diferença não é defeito. Baseado na falsa idéia de ser igual para poder pertencer a um grupo seja ele qual for, a pessoa vai se adaptando, se comportando de acordo com o funcionamento do grupo, deixando de ser original e mergulha no conformismo, não se realiza, isso pode inclusive culminar em alguma doença, pois estará em desarmonia consigo mesma. De um lado, a sensação de pertencer a um grupo traz a segurança, mas por outro lado na há crescimento. Se tivéssemos todos dentro de um grupo agindo e pensando da mesma maneira, não haveria crescimento. É na diferença que nos encontramos, sabendo o que não somos podemos entender o que somos, portanto, crescer. É o medo de Jonas, mostrando aos Ninevitas, uma possível mudança, poderia ocorrer uma rejeição, pois ele se diferenciou do grupo.
É na autoconquista que está a liberdade de viver em plenitude, conscientizando-se dos próprios valores, esclarecendo a consciência sobre os desejos. Triunfo pessoal.
Edgard Badari Junior
BADARI_OK
edgardbadari.blogspot.com
Edgard Badari Jr é Psicólogo e nosso grande colaborador.
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