Um lugar chamado elevador – Jairo Marques

O texto abaixo foi escrito por Jairo Marques do Blog Assim como você. É um blog muito engraçado com situações vividas por ele na condição de deficiente físico.

Jairo Marques Jairo Marques, 36, é formado em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pós-graduado em jornalismo-social pela PUC-SP. Trabalha na Folha desde 1999 e é cadeirante.

 

Um lugar chamado…elevador

Responde com “sinceridadchi” pro tio: Você tem tara por elevador? É daquelas pessoas que não anda em uma escala rolante, nem sobe alguns degraus mesmo com um decreto do Lula? Tem fetiche, né? Lugar fechadinho, cheio de ‘butão’ pra “modi” apertar….
Eu não tenho dúvida que 90% da população brasileira adora um elevador. Isso porque, como cadeirante, é uma luta conseguir espaço dentro de um, sobretudo em shoppings, prédios públicos e grandes lojas.

“Sobe?”… “Você tá subindo, benhê? (não tô aqui vendo os números se acenderem) Espera ai que eu já volto que agora tá lotado. Fica quietinho ai…. Ainda tá lotado. Espera que eu já volto”. Esse diálogo insólito com ascensoristas eu já tive diversas vezes.

“Chega mais pro cantinho pra caber a cadeirinha dele, senhor. Iiiiissso, issso. Cola mais o ‘carrinho’ dele ali na parede que dá. Aí, agora dá.. num deu, num deu… espreme mais. Empurra. A senhora pode ‘dismagrecê’ a barriga pra dar mais espaço?”. Na hora desses sufocos, eu sempre desisto e saio do elevador. Num dá, né?

Eu acho que deveria haver uma lei que determinasse que elevadores em lugares de grande movimento e com outras opções de acesso, como escadas rolantes, deveriam ser exclusivos pra deficientes, gestantes, pessoas conduzindo carrinhos de bebê, idosos e pessoas com mobilidade reduzida momentânea (com uma perna quebrada, por exemplo).

E não adianta que as pessoas não se tocam nunca que eu não tenho outra maneira para acessar os andares superiores ou inferiores. Se tá lotado e eu quero entrar, é muito raro que alguém desça e ceda o lugar. Fica todo mundo com aquela cara de paisagem ou disfarçando que não está vendo que alguém que não tem outra opção de acesso precisa entrar no treco.

Já cheguei a esperar 15 minutos para conseguir pegar um elevador. As soluções, às vezes, são “bizonhas”. “O senhor tá subindo? Olha, então é melhor você descer agora comigo até o último subsolo porque quando eu voltar vai ta chapado de gente e não vai conseguir entrar, viu”.

Povo, ceda a sua vez para quem realmente precisa desse veículo, vai. Tenho certeza que é mais rápido esperar por outro elevador do que esperar por um ônibus adaptado nos pontos de São Paulo.

Vencido o desafio de entrar no caixote de aço, a batalha da gente da Matrix ainda não está totalmente vencida. Quando não conseguimos entrar no elevador vazio ou ser um dos primeiros a entrar, quem é cadeirante ter que ir… de costas pra porta!!!! Gente, é demais. Todo mundo de frente pra saída e eu de costas. Imaginou a cena?

E tem mais, quando o “veículo” vai lotado, tem sempre alguém que se acha no direito de se escorar na cadeira, como se fosse assim, um balcão de bar, manja?

Aqui na Folha isso acontece direto na hora do almoço, quando o rush nos elevadores é forte. Pela manhã, é bem mais tranqüilo na chegada. Afinal, eu entro super cedo pra passar o cafezinho do pessoal que trabalha mesmo, né? Aí, geralmente, só tem eu e alguma das meninas do 10º andar, onde fica o “telemarqueti”.

O que é sensacional é que, depois do blog, toooodas me conhecem e fazem assim: “Bom dia, Jairo, tudo bem?” e dão uma risadinha. Puxa, eu num sei o nome de ninguém é gente demais! Mas, elas, gentilmente, apertam o botão do 4º andar pra mim, onde fica a redação e dizem que tão curtindo o “Assim como você”.

Ainda tenho muito pra falar de elevador e deficientes. Tem aqueles “exclusivos” do metrô, já viram? Você aperta um botão para se comunicar com o operador que, raramente, tá na cabine? E tem aqueles que são abertos, que só cabem mesmo a cadeira. Eu me sinto a verdadeira rainha da Inglaterra neles. Mas isso eu conto “pro6″ depois!

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